2 de julho de 2012

o corpo
deitado sobre o chão
repousa a cabeça
pensando
o outro corpo
deitado sobre o mesmo chão
e deleita a ideia de
um terceiro corpo
o de ambos
erguidos um sobre o outro
no chão.

18 de junho de 2012


você já perdeu o fôlego?
que tal um samba bravo, um samba fino?
que tal, mais adiante, um choro e um cavaquinho?
não, não me meçam,
sou desatento e não mereço flores.
no meu jardim há poesias de
amor, sonhos e desilusão.
do meu jardim passam os homens
pequeninos
até não mais ver.
você já perdeu o fôlego?
ora, tão simples é perder o ar
basta prender a respiração e
boom
já não é impossível amar.

16 de abril de 2012

nas turvas águas do rio o barco dá voltas
e quando se vê, está no ponto em que partiu.
as margens confundem
fazem de qualquer trecho
o mesmo de antes e antes e antes.
não há curvas nem abismos nem estreitamento
só o inevitável ir para o mar
que não se sabe ser início ou final.

14 de março de 2012

os derradeiros sonhos
são aqueles em que tua voz me habita.
sinto tuas mãos leves a acariciar-me a nuca
e a conduzir a historia do universo em contato
de lábios num sorver do desejo íntimo.
os meus olhos cerram-se num semicírculo
fechando-se em ti.
desejo um par de asas, peço para que me emprestes
e voas como o desejo último
sempre por vir.

25 de janeiro de 2012

.:à Manoela Alcântara:.

e ela sentava à goiabeira a tomar sol e fazer malabarismos ao fim da tarde. suas refeições eram colhidas no terreno baldio vizinho e, feito ratattouile, preparava-me sempre as melhores sopas, os melhores agrados, os melhores cafunés – aqueles duros e verdadeiros e saudosos e brandos cafunés - , éramos feitos da mesma costela, separados por duas mínimas vértebras. hoje a goiabeira se foi, o vhs de registros infantis mofou, mas ainda continuam as duas costelas a se aquecerem no frio.

7 de dezembro de 2011

o que se parte em mim
não me soa como quebra
é soma, multiplicação
reverbera pulsante
como o coração que salta
chora, grita, sorri
e quer ser música.

o que partiu-se dentro mim
não me apavora
só dilata e me fita
sabe lá porquê
viravolta some
e me aparece
feito música sem nota.

3 de novembro de 2011

duas peças iguais não se encaixam
se encaixam, uma delas fica pelo avesso
e o encaixe não forma figura
[rosi alves

como a um espelho se parte
quero ter em mim desejos
que sendo um eu não teria.
possuir tudo a tato
correr no corpo o sentido
de não ter abismo
entre mim e outro
sujeitar-me
não a mim, mas ao outro
e refazer a minha imagem
decomposta no espelho, outro.

16 de outubro de 2011

minha mãe já me dizia
dentro de uma água mole
sempre bate uma pedra fria.

15 de outubro de 2011

essa coisa de querer a qualquer custo
de querer incondicionalmente
sem o escrúpulo de pensar
ainda vai me perder a vida.
minha avó dizia
que crianças espertas
são anões em trajes infantis
eu nunca fui anão
assim como nunca fui esperto
mas já fui criança
e é disso que me lembro.
 

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